Plantando cenouras na sua cabeça

Animação para a música “Cenouras”, do grupo Som Imaginário (que contava com, entre outros, Zé Rodrix, Tavito e Wagner Tiso – e teve formação com Milton Nascimento e Naná Vasconcelos). Do disco “Som Imaginário“, de 1971

Eu hoje tenho um assunto delicado pra falar com você
Eu muito tenho meditado sobre a vida que você esqueceu
Você está com a cabeça virada para o nada
e não procura nem saber o que eu penso e o que faço
Eu acredito que você ainda tem uma pequena chance
e eu encontrei a solução pro seu caso
e lhe proponho um tratamento pra você melhorar
Eu vou plantar cenouras
Na sua cabeça




Valeu, Zé

“Músico, compositor, maestro, arranjador, ator, autor, pintor, publicitário, professor e jornalista”. Assim era definido Zé Rodrix em um release que eu recebi. Fiz piada, mas a verdade é que ele era tudo isso mesmo. E, além de tudo, uma das pessoas mais legais que já conheci. Sem exageros.

Estive na casa dele há pouco mais de um mês, para uma entrevista que eu acho que não vai mais sair. Linda casa, com um jardim florido e um pomar carregado, passarinhos cantando, uma cachorra orelhuda e gente boa, detalhes coloridos por todas as partes, um altar carregado de santos. Uma casa que pulsava vida. Tive o privilégio, mesmo que por pouco tempo, de ouvi-lo dedilhar o violão junto com a filha igualmente talentosa Bárbara, de 18 anos. Enquanto o fotógrafo fazia as fotos do pai e da fiha, os dois se olhavam e tocavam seus violões como se o tempo tivesse parado – até que o fotógrafo alertasse: “Zé, olha para a câmera!”. E ele olhava, posava, ria.

A primeira vez que eu o vi simpatizei de cara. Zé Rodrix é o tipo do cara gente boa, que dá vontade de sentar e conversar, que dá vontade de ser amigo. Foi em 2007. Eu e Aline o entrevistamos, junto com o parceiro de longa data Tavito, para nosso TCC. Zé contou histórias cabeludas, fez piada, e demonstrou o tempo todo o carinho imenso que tinha pelo amigo antigo.

Zé Rodrix era doce, e foi tão legal comigo no dia em que eu era só uma estudante pedindo entrevista quanto no dia em que eu fazia reportagem para um veículo grande. Ele era cantor, compositor, músico e tudo aquilo mesmo, mas também era um pai fantástico, um amigo incrível, uma pessoa genial – tinha uma inteligência afiada, mas passava longe da arrogância.

Criou seis filhos de cuca legal e tinha uma casa maravilhosa, cheia de livros e discos. E vida.

Hoje o dia está lindo, mas eu amanheci mais triste. Zé Rodrix faleceu de repente, ontem à noite. Não estava doente, não teve nenhum sintoma. Foi rápido e repentino. Ele era jovem. Lançaria, em breve, um disco novo com Sá e Guarabyra. Tinha 61 anos.

Eu desejo toda a força do mundo à Bárbara e à Júlia, esposa dele, e aos outros filhos e órfãos.

Boa Viagem (Zé Rodrix)
O fogo sempre vivo, o corpo nunca para
E ninguém consegue mais lhe segurar
Essa casa está pequena pro seu ritmo de vida
Qualquer dia desses vai voar pra longe
As mãos que eram tranquilas nunca mais se cruzaram
E ninguém consegue mais lhe segurar
E por mais que faça força essa casa está pequena
Qualquer dia desses vai voar pra longe
E eu que tinha a mais completa certeza
De que ia envelhecer feliz ao seu lado
Vai passando o tempo e se apagando o meu fogo,
E o seu fogo vai crescendo cada vez mais
A porta está aberta, por mais triste que seja
E eu não quero nem tentar lhe segurar
Onde o fogo queima forte, deixa só poeira e cinza
Abra as asas e pode voar
Boa viagem.

Abaixo, trecho (ruim, eu sei) da entrevista que eu e Aline fizemos com ele no Caiubi.

Tati


Psicodelia Brasileira Recomenda: Lançamento de livro do Zé Rodrix – RJ/SP

Para paulistanos e cariocas…

Zé Rodrix está lançando o último livro de sua trilogia, Esquin de Floyrac, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Para os fãs, fica o convite – dia 16 de setembro, 14h, no Café Literário da XIII Bienal do livro do Rio de Janeiro, 17 de setemnbro, 19h, na Livraria Argumento (RJ), 19 de setembro, 18h30, na Livraria da Vila. Para os que não conhecem o lado escritor do músico, um comentário de Luis Eduardo Matta, do site Digestivo Cultural:

“Na minha opinião, Zé Rodrix é um dos mais importantes nomes do romance brasileiro contemporâneo e juro que não consigo compreender como a mídia ainda não reconheceu isso ou, pelo menos, não da maneira como este extraordinário escritor merece. Zé Rodrix, nome artístico de José Rodrigues Trindade, é uma das figuras mais versáteis da cultura brasileira contemporânea. Maestro, compositor, cantor, arranjador, publicitário, ator, professor, escritor e dono de uma inteligência prodigiosa e um enorme carisma, Zé Rodrix demonstra em Zorobabel: Reconstruindo o Templo, como a criatividade, aliada a uma maneira clara e certeira de contar uma história, pode produzir uma obra literária de vulto e, ao mesmo tempo, de grande apelo junto aos leitores. Zorobabel: Reconstruindo o Templo, é o segundo volume da Trilogia do Templo, que teve início com o igualmente extraordinário Johaben: Diário de um Construtor do Templo, lançado em 1999 e deverá ser fechada com chave de ouro, em 2007, com Esquin de Floyrac: O Fim do Templo. O romance mistura realidade e ficção para reviver um período conturbado da Antiguidade, que começa no auge do Império Babilônico, época em que as tropas de Nebbuchadrena’zzar (Nabucodonosor) invadiram Jerusalém e destruíram o bíblico Templo de Salomão, provocando a primeira diáspora judaica e culmina com a queda da Babilônia em poder dos persas comandados por Cyro, o Grande. O protagonista é Zorobabel, um jovem judeu que cresce como escravo na Babilônia e, depois da libertação de Jerusalém pelos persas, torna-se governador da Judéia, reedificando o Templo. Trata-se de uma saga épica e fascinante sobre os primórdios da Maçonaria que, assim como o primeiro volume da trilogia, só encontra paralelo na literatura brasileira, no que Nélida Piñon realizou com o seu maravilhoso Vozes do Deserto. O livro tem mais de seiscentas páginas que são lidas com voracidade em uma semana, se tanto. Um dos grandes romances brasileiros publicados no século XXI, que irá fascinar todos aqueles que adoram um livro repleto de aventura, capaz de nos transportar até um passado, cuja magia, permeia o nosso imaginário há séculos.”