Psicodelia Brasileira recomenda: Lanny Gordin Duos

Quem estiver em São Paulo e se interessar por psicodelia e tropicália não pode perder os shows de Lanny Gordin neste final de semana. É o lançamento do disco “Duos”, e todos os shows contam com participações especiais.

Hoje, sexta, os convidados são Max de Castro, Edgar Scandurra e Junio Barreto; sábado, Max de Castro, Jards Macalé e Péricles Cavalcanti; e domingo, com Arnaldo Antunes, Chico Cesar e Fernanda Takai.

O show acontece às 21h e custa R$ 30. Estudantes pagam meia.
Auditório Ibirapuera
Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portão 2
Parque Ibirapuera
São Paulo


Baratos Afins



Em novembro do ano passado, quando o projeto nem tinha sido passado pro papel, demos um pulo na Baratos Afins, a lendária loja/selo do igualmente lendário Luiz Calanca. Em duas horas de papo, ele deu uma aula, abriu a caixa de memórias e a agenda telefônica. Foi incrível. Segue um trecho da conversa:

“A psicodelia começou mesmo em 65, 66, com as bandas de garagem que começaram a adicionar colagens nas suas canções. Eu acho que teve uma expansão do movimento com a introdução do lsd no mercado americano. O lsd começa a abrir a cabeça de uma tal maneira que os caras começaram a fazer todas aquelas colagens inspiradas nas reações do ácido. Eles pregavam essas músicas de protesto, tinha o movimento hippie, que foi sufocado por eles próprios porque começou a virar comércio. A indústria começou a explorar a cultura hippie então eles mesmos enterraram o movimento. Aqui no Brasil tinha um reflexo disto, obviamente, sempre meio atrasado mas tinha. Então aqui muitas bandas que a gente chama de bicho grilo as primeiras sintonias ligadas com essa turma de fora.

Calanca, no aconchego de seus discos

Embora aqui ninguém falava assim “ah tô fazendo um som psicodélico”, na verdade estavam vivendo aquilo no mundo, em protesto à guerra do Vietnã, e foi justamente nesse momento que tava acontecendo tudo junto, o movimento flower power, as músicas de protesto, o movimento hippie, foi tudo em 66 até 69, esses três anos aí aconteceu muita coisa, inclusive o movimento black. Eu poderia arriscar que é a televisão sabe, que começou a chegar, a ficar popular, chegar a todos os lugares. Era isso mesmo, quando a gente acordou e via tudo aquilo no mundo, aí o Brasil começou a absorver tudo isso e, nesse momento, estavam acontecendo os festivais da Record , com Caetano, Mutantes, Jorge Ben, Ronnie Von, e esses caras eram nossos porta vozes”.


VÍMANA: Muito além dos cachos de Lulu Santos

Mítica banda de rock dos anos 70, o Vímana (palavra que significa disco voador em sânscrito) só ficou conhecido porque seus integrantes fizeram bem-sucedidas carreiras solo: Lobão (bateria), Lulu Santos (guitarra), Ritchie (vocais e flauta), Fernando Gama (guitarra, que depois integrou o Boca Livre) e Luiz Paulo (teclados, que depois mudou-se para os EUA). O primeiro show aconteceu em 1974 no teatro João Caetano (RJ), e depois de algumas apresentações foram escalados para a primeira edição do Hollywood Rock, em 1975, quando o som pifou e o show foi uma catástrofe. É um trecho desse show que você vê no vídeo abaixo.
Vímana, babes. Enjoy!

Correndo

Direto da terra do Mopho, uma matéria bacana sobre psicodelia brasileira.
Talvez os barulhos da metrópole tenham contribuído. Mas o fato é que, antes de gerar os Mutantes, a cidade de São Paulo ouviu em primeira mão os ruídos iniciais da psicodelia brasileira. Segundo aponta o jornalista Fernando Rosa, no site Senhor F, um dos mais completos na Internet sobre o assunto, “as primeiras manifestações psicodélicas ocorreram em São Paulo, por meio de grupos como The Beatniks, Os Baobás e The Galaxies. (…)

Passada a fase inicial, a partir de 1974 a psicodelia brasileira é misturada a novos ingredientes sonoros. Depois do rock and roll e da MPB, foi a vez do jazz, do erudito, da música regional e do rock progressivo experimentarem o gosto ácido da lisergia. Surgem então grupos originários desta receita: Som Nosso de Cada Dia, A Barca do Sol, Vímana – integrado por Ritchie, Lobão e Lulu Santos -, Veludo, Ave Sangria, Som Imaginário, Flaviola e o Bando do Sol. (…)
Leia mais aqui.

Suficiente, com restrições – um pouco de Ronnie Von

Neste post: 1º Parecer do nosso TCC/ 2º Um pouco mais sobre Ronnie Von/ 3º tributo Ronnie Von – entrevista com a idealizadora do projeto


A Faculdade Cásper Líbero tem uma política estranhíssima de avaliação de Projeto Experimental. Para podermos, teoricamente, começar a fazer o TCC nosso pré-projeto deve ser avaliado por um parecerista – que deve ser escolhido por sorteio (vcs entenderão o porquê disso a seguir) e este diz se o seu trabalho é consistente o suficiente para seguir no processo.

Nosso parecerista foi nosso professor no segundo ano. Ele é jornalista com mais de duas décadas de atividade profissional, foi editor de assuntos internacionais da Veja, da Época e da Folha de S. Paulo. Também foi editor da Superinteressante e Exame. Ele leciona na Cásper desde 1997. O “diagnóstico” dele foi: Suficiente, com restrições. Não vamos colocar todo o texto, mas resumindo, ele disse que optamos por um caminho “original”, fez algumas considerações favoráveis, outras não, e disse que quer ler nossas histórias. Ok. Mas eis o inesperado:

“Posso estar enganado nas minhas observações, mas sinto que que (sic) as autoras não pesquisaram o assunto com devida profundidade. Ronnie Von, por exemplo, nunca teve nada a ver com tropicalismo, psicodelismo (sic) ou qualquer coisa do gênero. Ao contrário, no linguajar da época, o “Pequeno Príncipe” era a caretice em pessoa (um traço que ele preserva até hoje…)”.

Infelizmente, o professor responsável por avaliar o nosso projeto está enganado em suas observações. Ele aprovou, ok, e ele tem o direito de fazer suas considerações. Mas o professor ecoou o senso comum sobre o Ronnie Von. Era ele quem deveria pesquisar um assunto ao assumir a responsabilidade de avaliar um projeto.

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Um pouco de Ronnie Von

Em meados da década de 60, Ronnie Von era apresentador do programa “O pequeno mundo de Ronnie Von”. Exibido pela Record aos sábados, o programa era a alternativa da juventude ao “Jovem Guarda”, programa de Roberto, Erasmo e Wanderléa, que ia ao ar aos domingos. O programa de Ronnie abria espaço para novas bandas. Ali tocaram pela primeira vez Os Mutantes, que acabaram sendo apadrinhados pelo apresentador. Quando apareceram, não tinham nem nome e foi Ronnie quem apresentou a sugestão (a idéia foi de outro produtor), baseada em um conto de ficção científica que ele, Arnaldo, Sérgio e Rita gostavam.

“Ronnie Von”, 1967: a capa, a participação de Liminha e Cozzela
não negam a psicodelia e a influência da tropicália

Em 1967, ele lançou “Ronnie Von 3”. Foi sua primeira incursão no mundo da experimentação sonora. Em lua-de–mel com a tropicália, o disco foi gravado com Os Mutantes, os Beat Boys (os argentinos que acompanharam Caetano em Alegria, Alegria, no festival da Record), e teve os arranjos do maestro Rogério Duprat. Caetano Veloso, inclusive, participa do disco na faixa “Meu bem”, dividindo os vocais com Ronnie.

No mesmo ano, com Os Baobás, foi lançado “Ronnie Von”, disco com a participação de Liminha, que mais tarde se tornaria baixista dos Mutantes, e arranjado pelo mestro Damiano Cozzela, da mesma escola de Duprat. A produção do disco e a capa não negam a influência psicodélica de Ronnie. Nesse disco, está a clássica “Silvia 20 horas, domingo”, regravada com sucesso pelo Vídeo Hits. “A Misteriosa Luta do Reino de Passassempre Contra o Império de Nuncamais” [existe título mais psicodélico que esse?], de 1969, e “A Máquina Voadora”, de 1970, apresentam já referências progressivas – anos antes delas entrarem na moda, em meados da década, com Módulo 1000, Vímana e os próprios Mutantes.
Antecipando o progressivo: capa do disco “A Misteriosa Luta do Reino de Passassempre Contra o Império de Nuncamais”, 1969

Pela sonoridade diferente, esses discos foram uma vírgula na carreira de Ronnie. Não fizeram sucesso e ficaram esquecidos por décadas. Isso explica, em parte, a opinião baseada no senso comum do nosso professor.

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A jornalista Flávia Durante, apaixonada pesquisadora da fase psicodélica de Ronnie Von, está fazendo um intenso trabalho de divulgação daqueles discos. Em 2004, surgiu a idéia de fazer um tributo à Ronnie, só com bandas novas. Muitas bandas abraçaram a idéia e, há poucas semanas, a coletânea saiu do papel. Em entrevista, ela fala mais sobre o trabalho.

Você conheceu a fase psicodélica do Ronnie com o Video Hits. Como foi a pesquisa para achar os outros discos?
Com o bom e velho Soulseek! Tenho um vasto material dessa fase do Ronnie que peguei por lá. Mas vou comprar todo o catálogo que está sendo finalmente relançado pela Universal!

Porque essa fase obscura do Ronnie caiu no esquecimento?
Porque a imagem do Ronnie ficou muito associada à fase brega, de “Cachoeira” e tal.

Como foi viabilizado o projeto da coletânea?
Tudo na fé e na boa vontade dos amigos! A idéia surgiu na comunidade sobre o cantor que criei no Orkut em 2004. Muitas bandas se empolgaram com a idéia e logo se ofereceram mas depois sumiram! Então tive que recomeçar todo o cast do zero. Selecionei as bandas, cobrei a entrega dos prazos, revisei os textos, separei os contatos, procurei um servidor gratuito, implorei aos amigos por um design na brodagem… Por isso demorou tanto pra sair. O site Recife Rock ofereceu a hospedagem e o belo design foi feito pelo gaúcho Gabriel Von Doscht, que também participa do tributo com a banda Os Vilsos.

Como foram selecionadas as bandas participantes? Elas conheciam as músicas?
Algumas se ofereceram na própria comunidade e outras eu convidei. Algumas não conheciam muito o trabalho dele dessa fase mas quando fiz o convite se interessaram e viraram fãs na hora.

O que o Ronnie Von acha da coletânea?
Mantenho contato com o Léo Von, filho do Ronnie, pelo MSN, o conheci pelo Orkut. Quando o site ficou pronto mostrei pra ele, que logo mostrou pro pai! Diz o Leo que o pai adorou o resultado! Mas antes, quando ele soube da idéia, já havia ficado muito emocionado! A maior ressentimento de sua carreira era não ser reconhecido pela qualidade de seu trabalho. Felizmente agora esse erro terrível está sendo sanado.

Saiba mais e baixe os dois volumes da coletânea: http://www.ronnievon.net.

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Tomara que nosso professor avaliador mude de idéia.


Mistério do planeta

Nas nossas horas de gravação cariocas, muitas risadas, muitas histórias e muitas discórdias. Cada entrevistado tem um ponto de vista sobre a cena musical em questão – o que vai dar um trabalho grande para apurar mas, sem dúvida, abriu nossos horizontes.

Talvez o único ponto de concordância entre eles seja a trupe dos Novos Baianos. Todos adoram e colecionam histórias da comunidade hippie num apê em Botafogo. Mas isso eles explicam melhor nas entrevistas. Por enquanto, um dos vídeos lindos extraídos do documentário de Solano Ribeiro sobre o hippies de Botafogo/Jacarepaguá.


A estrela, o filósofo e o louco

Ladies n Gents,

nossa ida ao Rio de Janeiro foi DEMAIS. Sem babação de ovo, mas as conversas renderam mais do que o esperado, a receptividade foi impagável e os personagens… ah… estes são indescritíveis.

Agradecemos Santo Expedito pela Graça Alcançada, Nelson Motta pelo café, Luis Carlos Maciel pela aula e Ezequiel Neves pela cerveja!

Fiquem atentos… nos próximos capítulos:

“Nessa época, vc tinha que ter autorização pra ser rebelde…” N.M.

“Uma vez eu tomei um ácido e encanei que era a Madalena…” L.C.M.

“Os Mutantes eram ruins. A rita era afônica, o Arnaldo era inteligente, muito inteligente mas louco e o Sérgio… esse era um chato…” E.N.

Zero vinteum


Neste final de semana, encontros e entrevistas com Nelson Motta, Ezequiel Neves e Luís Carlos Maciel.


Noites tropicais

Nelson Motta, o Nelsinho, nasceu no lugar certo na hora certa. E trabalhou com as pessoas certas. Passou a adolescência nas rodas de bossa nova, cercado por Vinícius, Nara Leão, Edu Lobo. Conheceu Chico Buarque ainda moleque. Ficou amigo de todos. Colunista no Última Hora, foi o responsável por difundir a tropicália – até então, um estilo de música, teatro e cinema contestadores sem unidade entre si. Conheceu Tim Maia e Roberto Carlos quando ainda eram moleques roqueiros da Tijuca. Viveu e combateu a repressão, perdeu amigos, namorou Elis Regina, foi casado e teve filhas com Marília Pera.

Já na década de 70, foi o responsável por festivais de rock históricos do Rio de Janeiro, conviveu com os “friques” Raul Seixas e Paulo Coelho, viu Lulu Santos e Lobão ainda moleques, tocando com o Vímana. E, quando estourou a onda discotéque, criou a boate e a moda de “dancing days”, e são dele os sucessos das Frenéticas.

Vímana (da esq. para dir.): Luiz Simas, Lobão, Lulu Santos, Ritchie “Menina Veneno” e Fernando Gama

Como se não bastasse, viu o nascimento – se não tiver também ajudado no parto – do rock brasileiro de 80, dos Titãs, Barão Vermelho, Legião Urbana, Blitz. Por falar em Evandro Mesquita, foi um dos roteiristas e criadores da “Armação Ilimitada”. E, só para finalizar a década de 80, foi o responsável por descobrir e lapidar Marisa Monte.

Precisa de mais? Toda a história da MPB está contada na visão carinhosa de Nelson Motta, o Nelsinho, em “Noites tropicais”. Narrado em primeira pessoa, o livro é um relato passional e pessoal, mas também histórico, da nossa música.

Recomendamos!


Torquato Neto: à margem da margem da margem

Torquato Neto morreu na madrugada seguinte ao seu aniversário de 28 anos… com um ano a mais de idade do que lendas como Hendrix, Joplin, Cobain… foi torto até na morte; torto como o anjo de Drummond.

Também não morreu de overdose. Morreu por vontade própria. Ligou o gás e com o oxigênio foi-se um dos mais significativos poetas brasileiros. Poeta moderno, alcóolatra, cabeludo, taxado como louco, revolucionário, tropicalista.

Torquatália, obra de Paulo Roberto Pires, dividida em dois volume – Do lado de dentro e Geléia Geral, mostra um pouco do gênio, um pouco do insano, um pouco do homem que foi Torquato Neto. Do lado de dentro, primeiro do duo e único que li traz, além de canções, poemas, cartas, roteiros, parcerias, textos, certa transposição do espírito de TN. Íntimo e ao mesmo tempo publicável… Geléia Geral preocupa-se com sua vida jornalística. Reúne textos e referências profissionais do autor.

O homem das grandes parcerias. Da música, do teatro, da poesia, do jornalismo. Uma das cabeças do Tropicalismo. “Escrever já não dá conta das transas do nosso tempo”. Pra entender Torquato Neto, só mesmo com suas próprias palavras.

Tropicalismo para iniciantes:
(…) Assumir completamente tudo o que a vida dos trópicos pode dar, sem preconceitos de ordem estética, sem cogitar de cafonice ou mau gosto, apenas vivendo a tropicalidade e o novo universo que ela encerra.

Torquatália III
Escolho a Tropicália porque não é liberal mas libertina. A antifórmula superabrangente o tropicalismo está morto, viva a Tropicália. Todas as propostas serão aceitas, menos as conformistas (seja marginal). Todos os papos, menos os repressivos (seja herói). E a voz do outro Brasil canta para você

Como diria Tim Maia: “Leia o livro!”