Liberando a psicodelia brasileira: o livro agora está disponível online

Atendendo a pedidos, resolvemos liberar o PDF completo do livro. Leia agora:

Psicodelia brasileira: um mergulho na geração bendita

São mais de 200 páginas de relatos, fotos, recortes e letras de músicas dos artistas que compuseram a tal cena psicodélica brasileira dos anos 60 em diante.

Apuramos e escrevemos este livro em 2007, como nosso trabalho de conclusão de curso na Faculdade Cásper Líbero. Foram mais de 60 entrevistas feitas em vários estados do país e de todas as maneiras possíveis. São dezenas e dezenas de fotos, recortes e depoimentos de pessoas que acreditaram no nosso trabalho.

O TCC foi aprovado com nota 10 pela banca avaliadora. Imprimimos pouquíssimas cópias do livro e pensamos muito (quase cinco anos) antes de disponibilizá-lo na web porque ele foi, afinal, apenas um trabalho acadêmico.

Mas, mesmo depois de todo esse tempo, ainda recebemos semanalmente pedidos de acesso à obra. Costumamos responder caso a caso, mas desta vez resolvemos liberar para que o livro possa ser livremente consultado.

Como o trabalho foi feito com a confiança e o apoio das dezenas de entrevistados, que nos contaram preciosidades de suas vidas, optamos por restringir o acesso parcialmente: apenas a republicação e divulgação estão liberados. Qualquer outro uso (obras derivadas, fins comerciais) é vedado. Todas as imagens incluídas neste livro foram gentilmente cedidas por entrevistados e outros colaboradores para serem utilizadas exclusivamente neste trabalho acadêmico.

Não podemos deixar de agradecer também ao designer Thiago Silvestrini, que virou algumas madrugadas diagramando a obra em um projeto gráfico incrível.

Nós gostaríamos de ter dado um exemplar da obra para todo mundo que contribuiu com ela. Mas isso foi impossível. Então, virtualmente, aqui fica o nosso trabalho e a nossa gratidão. Esperamos que o livro ajude a reconstruir uma cena que ficou por muito tempo esquecida, e que inspire outras pessoas a redescobrirem o nosso passado, tão rico e interessante.

 

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Show do Marcos Valle!

Hoje tem show do Marcos Valle no Centro Cultural Fiesp!

Como diz no próprio site do evento, “consagrado como um dos maiores compositores da MPB, Marcos Valle é autor de mais de 300 músicas gravadas por nomes como Elis Regina, Tim Maia e Roberto Carlos. Ao longo de sua carreira compôs temas de novelas, trilhas sonoras – reconhecidas internacionalmente – e canções originais  que lhe renderam músicas regravadas e remixadas por diversas bandas e DJ’s tocadas em clubes noturnos da Europa e Japão. O show Marcos Valle – Contrasts apresenta clássicos como Samba de Verão, Os Grilos, Batucada Surgiu, e inéditas. Seu mais recente trabalho Conecta conta com participações especiais e releituras com arranjos sofisticados (…)”

O carioca tem uma carreira surpreendente e, dentre os inúmeros discos mais comerciais, existe uma raridade, um disco que podemos considerar, de certa forma, psicodélico. Vento Sul, de 1972, é  uma espécie de rompimento. “Marcos Valle radicalizou de vez em Vento Sul, o disco mais experimental de sua carreira. Sambas psicodélicos invadiram o repertório, composto em uma aldeia hippie e gravado com integrantes do grupo O Terço”, explica Leonardo Bomfim, em texto publicado no site The Freakium!.

Para baixar o disco, clique aqui!


Marcelo Zona Sul – trilha psicodélica

“Marcelo Zona Sul, filme de Xavier de Oliveira, interpretado por Stepan Nercessian. Foi lançado em1970, com grande sucesso em todo o país. As canções “Marcelo” e “Renata” compostas por Denoy de Oliveira e interpretadas pelo grupo gaúcho Liverpool Sound foram muito executadas nas radios naquele ano.” – explica o youtube 😉

Sobre o Liverpool, banda que ganhou um capítulo inteiro em nosso livro:

Liverpool (1970) (RS)

Liverpool foi a banda brasileira que mais perto chegou da criatividade mutante na época, porém, seu vinil nunca foi digitalizado por uma grande gravadora e alguns heróis hoje compartilham pela internet o pouco do que sobrou. preste atenção na psicodelia de “olhai os lírios do campo”, “impressões digitais” e “voando”, todas mostrando o quanto mimi lessa e sua guitarra eram dignos de serem cultuados eternamente. Fughetti luz é autor do hino “campo minado”, imortalizado pela bandaliera e foi um dos grandes responsáveis pela formação do bixo da seda (que saberemos mais num próximo capítulo). hoje vive no interior do estado, porém ainda percorre os becos portoalegrenses produzindo músicos e bandas como a já citada (e extinta) bandaliera e também barata oriental (quarteto oitentista que retornou de longo retiro espiritual em 2004). mas, da psicodelia que o liverpool emanava, ficaram apenas as lembranças. Marcelo zona sul é trilha sonora do filme de 1970. perdido pelas locadoras ou acervos particulares de porto alegre.


Fellini canta Loki

Música original do mestre Arnaldo Baptista.


Geração Bendita!

O nome do nosso livro vem de do filme “Geração Bendita”, um filme hippie (o primeiro do Brasil) gravado em Nova Friburgo (RJ), com trilha sonora do grupo Spectrum.

Se você está de bobeira neste domingo, dá uma olhadinha… vale como experiência! rs


Plantando cenouras na sua cabeça

Animação para a música “Cenouras”, do grupo Som Imaginário (que contava com, entre outros, Zé Rodrix, Tavito e Wagner Tiso – e teve formação com Milton Nascimento e Naná Vasconcelos). Do disco “Som Imaginário“, de 1971

Eu hoje tenho um assunto delicado pra falar com você
Eu muito tenho meditado sobre a vida que você esqueceu
Você está com a cabeça virada para o nada
e não procura nem saber o que eu penso e o que faço
Eu acredito que você ainda tem uma pequena chance
e eu encontrei a solução pro seu caso
e lhe proponho um tratamento pra você melhorar
Eu vou plantar cenouras
Na sua cabeça




Loucos por vinil – Homenagem Tropicália

Quem gosta de LPs vai, com certeza, se animar com essa.

Acontece no próximo final de semana um encontro de colecionadores para venda, compra e troca de vinis em Embu das Artes. O evento, intitulado “Loucos por Vinil”, ainda cotará com apresentações ao vivo de bandas que remetem ao estilo.

Oportunidade única!

PS> Quem nunca viu o Lanny Gordin ao vivo deveria correr pra lá!


Ave Sangria

O Ave Sangria, assim como Lula Côrtes, era uma das bandas pertencentes ao movimento Udigrudi nordestino.

Este é um cartaz de uma das apresentações da banda. O carimbo revela a data: 29/12/1974

 


Modulo 1000

Módulo 1000 – Psicodelia do Rio de Janeiro (Quem tiver esse vinil pra vender… avisa?)


Lembranças de Lula

Semana passada fomos bombardeadas com a notícia da morte de Lula Côrtes. Em um trabalho sobre a psicodelia, é claro que ele não poderia ficar de fora e dedicamos um capítulo inteiro a ele e seus conterrâneos do Udigrudi.

Udigrudi, de “underground”, era a cena alternativa nordestina e foi dentro deste cenário que Lula brilhou. Como muita gente sabe, uma de suas parcerias, para ser mais exata com Zé Ramalho, resultou em disco – o Paêbiru (1975) – que é hoje tido como relíquia, um dos álbuns, senão “o” álbum, mais caros do país.

Mas não foi só neste disco que ele mostrou seu talento. Satwa (anterior ao Paebiru, de 1973), ao lado de Laílson, é instrumental e como diz na contracapa, suas canções são “produtos mágicos das mentes e dedos de Lailson e Lula”.

Como publicou Fernando Rosa, o Senhor F, “o som predominante do disco, no entanto, é um folk nordestino/oriental, resultado da mistura da cítara popular tocada por Lula, e da viola de 12 cordas de Lailson. Algo como uma sucessão de ragas ou mantras, interpretadas por Cego Aderaldo movido a incenso, cogumelos e outros ‘expansores da musculatura mental’, como diz Arnaldo Baptista”.

(Rosa de Sangue, outro disco, é de 1980)

Entrevistar Lula foi, sem dúvida, uma honra e para homenageá-lo do jeito que podemos, um trecho do livro, com uma das histórias que ele contou, em que foi preso e acabou bebendo cerveja com os policias que o prenderam. Brincando, ele revela um lado mais sério e fala sobre a censura e o preconceito para com os artistas daquela época.

PS> Há um projeto de relançamento do catálogo da Rozenblit (gravadora pernambucana que lançou os discos de Lula). Vamos torcer!

***

Para o artista Lula Côrtes, o mais grave era que os censores eram garotos do interior que se alistavam e não tinham o menor embasamento cultural para classificar nada. “Você ia preso por causa de palavras como desbunde, isso é palavra que existe no dicionário, mas acho que ele relacionou com bunda ou com alguma coisa pornográfica”, lembra. Marco Polo chegou a se aproximar de uma censora, que não entendia as tiradas do letrista: “Era uma senhora até assim simpática, gente fina, ficou minha amiga e tudo. E ela não percebia que eu estava curtindo com a cara dela de tão imbecil que ela era”.

Uma vez, os integrantes do Ave Sangria foram todos presos, acusados de estarem com drogas. Naquele dia, porém, não tinham nada – mesmo assim, só conseguiram sair da delegacia de madrugada. Uma noite, durante um show no elegante Teatro Santa Isabel, Marco Polo pediu à platéia “alguém tem um cigarro aí?”. Lula Côrtes, sentado na beira do palco, atendeu ao pedido. O vocalista tragou com gosto, e a platéia foi abaixo, pensando que era maconha. Marco tranqüilizou: “é palha”. No dia seguinte, foi acordado pela Polícia Federal em sua casa. O policial:

– Marco Polo, vá lá contar que você estava incitando a juventude a fumar maconha.

– Como é que é, bicho?

Marco foi à delegacia e tentou se explicar:

– Não, é o seguinte, estava Lula Côrtes lá, eu pedi um cigarro, ele me deu um cigarro de palha.

Tudo bem. Já saindo, Marco desafiou:

– Mas eu já fumei maconha.

– Epa, espera aí, como é que é?

– Fumei maconha em São Paulo, quando era jornalista do Jornal da Tarde. Um major da Polícia Militar levou maconha pra gente conhecer o cheiro –, caçoou. E foi embora.

A patrulha ideológica em Recife era tão forte que Almir de Oliveira ia armado à faculdade de engenharia, onde estudavam muitos militares que ficavam caçoando do hippie cabeludo. Um dia, juntou-se um grupo: “hoje é dia de cortar o cabelo e dar um banho no hippie!”. Almir tirou o “canhão”, como chama, da bolsa: “Os militares disseram ‘não, não, a gente está brincando’, eu disse ‘mas eu não estou, não’”. Almir acabou largando a faculdade naquele período.

Toda aquela geração produtiva pernambucana foi atingida pela repressão. Desde os tempos da Feira Experimental de Música, Lula Côrtes firmou-se como um guru da cena. Foi parar na cadeia inúmeras vezes. Em uma noite, em um show na Paraíba, o produtor garantiu a Lula que os policiais presentes “eram legais”. Dali a pouco, entra o policial. Lula acabou preso, nu, segurando a bandeja uma bandeja. Numa outra vez, foi detido e, enquanto esperava o camburão, acabou bêbado, de algemas, tomando cerveja com os policiais que o prenderam. Bem menos divertido foi o período em que passou vinte dias em um quartel, preso por visitar um amigo guerrilheiro. A polícia federal o levou de sua casa, encapuzado. Nos primeiros três dias de prisão, foi torturado. Depois, ficou mais de duas semanas em uma solitária, escura, ouvindo choros e gritos. Estava enlouquecendo sem falar com ninguém. Um dia, passou um rapaz em frente à cela.

E Lula:

– Arranja uma coisa para eu ler, pode ser Pato Donald, Recruta Zero, qualquer coisa!

E o menino:

– Tu sabe porque que está aqui?

– Não.

– É porque tu leu demais.

Naquele período, o músico pensou que seria morto, convencido pela tortura psicológica dos policiais. Até que foi jogado com os outros prisioneiros, todos encapuzados, no camburão. Rodaram por horas no calor. Sem saber o que estava acontecendo direito e sem enxergar, Lula lembra que o carro ia parando e os presos iam sendo colocados para fora, um a um, às porradas: “Batia no cara, o cara gritava, eles atiravam, depois diziam ‘vamos embora’”. E os que iam sobrando no camburão ficavam apavorados, chorando, pedindo clemência. Chegou a vez de Lula: deram-lhe uma porrada na testa e o largaram, encapuzado e desmaiado, na frente de sua casa. “Eu acordei de madrugada com o povo em volta de mim falando, ‘o que é isso?’, ‘deve ser comunista’”, lembra o artista, que ficou estirado no chão, sem enxergar, até que um dos presentes sugeriu que lhe tirassem o saco da cabeça. “Esse foi o dia mais torturoso, o dia mais comprido da minha vida. Você fica descompensado depois”.