Show do Marcos Valle!

Hoje tem show do Marcos Valle no Centro Cultural Fiesp!

Como diz no próprio site do evento, “consagrado como um dos maiores compositores da MPB, Marcos Valle é autor de mais de 300 músicas gravadas por nomes como Elis Regina, Tim Maia e Roberto Carlos. Ao longo de sua carreira compôs temas de novelas, trilhas sonoras – reconhecidas internacionalmente – e canções originais  que lhe renderam músicas regravadas e remixadas por diversas bandas e DJ’s tocadas em clubes noturnos da Europa e Japão. O show Marcos Valle – Contrasts apresenta clássicos como Samba de Verão, Os Grilos, Batucada Surgiu, e inéditas. Seu mais recente trabalho Conecta conta com participações especiais e releituras com arranjos sofisticados (…)”

O carioca tem uma carreira surpreendente e, dentre os inúmeros discos mais comerciais, existe uma raridade, um disco que podemos considerar, de certa forma, psicodélico. Vento Sul, de 1972, é  uma espécie de rompimento. “Marcos Valle radicalizou de vez em Vento Sul, o disco mais experimental de sua carreira. Sambas psicodélicos invadiram o repertório, composto em uma aldeia hippie e gravado com integrantes do grupo O Terço”, explica Leonardo Bomfim, em texto publicado no site The Freakium!.

Para baixar o disco, clique aqui!


Ave Sangria

O Ave Sangria, assim como Lula Côrtes, era uma das bandas pertencentes ao movimento Udigrudi nordestino.

Este é um cartaz de uma das apresentações da banda. O carimbo revela a data: 29/12/1974

 


Tommy

Tommy é foda.

 

Aline


Psicodelia Brasileira Recomenda: Jupiter Apple Combo

JUPITER APPLE COMBO

Depois de um bom tempo sem fazer shows, e agora morando em São Paulo, o maior ícone do rock gaucho de todos os tempos, e vanguardista, Jupiter Maça, retorna agora num show inédito, experimentando o Jazzy sounds, Bossa Nova, pitadas de Nouvelle Vague e texturas aveludadas.

Revisitando alguns de seus clássicos e mais duas musicas inéditas, com o formato genuíno de combo.

voz JUPITER MAÇA

piano ASTRONAUTA PINGUIM

baixo LUIS THUNDERBIRD

bateria FELIPE MAIA

ABERTURA DO SHOW: Laura Wrona

Dj RESIDENTE: DJENNIPHER

Quando: 27 de abril, sexta

Horario: 23h

Entrada: $ 12

Projeto: La Noche Cool

Onde: Clube Berlin – SP

Pra quem quiser se aventurar, fica a dica!

Aline


Tietagem

Emoção

Emoção


Sempre loki

A Aline me chamou no msn: “O Arnaldo vai estar lá hoje!”. Fui voando.

Chegamos cedo. Assim que pisamos no Cinesesc, o homem título do filme estava lá, feliz, com uma cara ótima. Recebia a todos os que o cumprimentavam com um abraço, sob o olhar atento da mulher e guardiã Lucinha. Fumava um cigarro atrás do outro e volta e meia encontrava um amigo-loki das antigas, com quem trocava palavras, afagos e sorrisos.

Queria sentar lá, trocar uma idéia, tirar foto, pedir autógrafo, sei lá. Mas deu vergonha. Quando passou a vergonha, era a hora da sessão. Mais groupies, impossível: éramos os primeiros da fila, hahahahaha. Tudo bem. Pegamos nossos lugarzinhos e embarcamos na viagem.

O documentário, como dito, é uma produção do Canal Brasil. Apesar de uma ou outra inovação e quadros diferenciados, tem um formato televisivo, simples e linear. A trajetória de Arnaldo Baptista é narrada de forma doce, com muitos fatos, depoimentos de figurões, imagens de arquivo (que, de fato, são maravilhosas), mas com – na minha opinião – um excesso de rasgação de seda, uma coisa meio exagerada e desnecessária. Ninguém precisa dizer e repetir que o Arnaldo é foda, que ele é gênio, que isso e aquilo. Os fatos falam por si.

Arnaldo Baptista é convidado pelo diretor a pintar um quadro (ofício a que ele se dedica desde o acidente) que represente sua vida. É tocante. Não vou contar os detalhes. Mas alguns trechos renderam muitas lágrimas. Arnaldo sente muito, mesmo. Até hoje. E isso é muito triste. A história dele rende uma mistura de tristeza, por tudo o que aconteceu, mas também de esperança, de redenção. Porque a mensagem que o filme passa é a de que hoje, depois de tudo o que passou, Arnaldo descobriu como ser feliz. A sua maneira particular de ser feliz – não igual aos outros, mas e daí? A mulher dele, a Lucinha, conseguiu tirá-lo daquela busca pelo sucesso, pela fama, pela tal normalidade, pela aceitação, e fez ele entrar em um mundo especial.

Pontos altos:

– As imagens de arquivo dos Mutantes. A Rita Lee loirinha, de franjinha. Os três fazendo graça. Demais.

– O quadro pintado por Arnaldo. Tocante.

– O depoimento de Antonio Peticov.

– O depoimento do Sérgio Dias. Ele pede desculpas ao irmão. Emocionante.

– O olhar emocionado de Dinho.

– O final da sessão. Os cinco minutos de aplauso. Ver o Arnaldo lá, inteiro, de pé, feliz, sorrindo. Mesmo depois de tudo.

– E, claro, abraço que demos nele e a merecida foto-tiete, que outro dia eu posto aqui.

Pontos baixos:

– A falta de sensibilidade. Porque o filme fala de uma barreira muito tênue: a loucura e a lucidez. Até que ponto é legal ser louco? Pode ser engraçado, mas pode ser muito triste. E há momentos no filme em que a loucura não tem a menor graça. Arnaldo, no auge de sua depressão, convidou Peticov para uma viagem de disco voador. No filme, quando Peticov narrou a história – muito sério – a platéia riu. E isso não é nada engraçado.

– Excesso de elogios. É claro que o filme tem um tom elogioso, e blablabla. Mas, né? Não precisa de Zélia Duncan repetindo mil vezes o quanto Arnaldo é foda, o quanto ele é a encarnação da “balada do louco”. Desnecessário.

A última chamada para ver o documentário no cinema é no domingo 26, às 17h, no Unibanco Arteplex (Shopping Frei Caneca, Rua Frei Caneca, 569 – 3ºpiso). Não deixe de ir!

Tati


Documentário sobre Arnaldo Baptista

Da Folha Online:

Festival aplaude biografia sobre Arnaldo Baptista

O filme mais aplaudido na disputa da Première Brasil no Festival do Rio 2008 não é uma ficção e não será lançado nos cinemas. O documentário “Loki -Arnaldo Baptista”, de Paulo Henrique Fontenelle, foi ovacionado pela platéia (de pé) durante cinco minutos, no sábado à noite, no Cine Odeon.

Primeiro longa-metragem produzido pelo Canal Brasil, o título estreará exclusivamente na grade da emissora. Exibições em salas serão restritas a outros festivais.

“Tenho minhas dúvidas se todo documentário tem que ir para o cinema. Acho que a gente tem que investir e apostar no caminho do documentário na TV”, afirma o produtor-executivo do filme e gerente de marketing e novos projetos do Canal Brasil, André Saddy.

Cinebiografia do músico Arnaldo Baptista, o longa revisita sua história, desde a criação dos Mutantes até a rotina atual, dedicada às artes plásticas, na casa em que vive, em Juiz de Fora, Minas Gerais.

No início do filme, Arnaldo Baptista cita os grandes capítulos de sua vida –“o acidente e quase morte, a paixão pela cantora Rita Lee, os Mutantes” etc.– e dá início à pintura de um quadro em que representará “as partes de sua identidade como uma evolução”.

No centro da tela, ele escreve “sinto muito”. É uma expressão de duplo significado, como explicou, no dia seguinte, à Folha: “Meu modo de ser é levado por essa frase, que envolve o fato de pedir desculpas e o fato de eu possuir uma sensibilidade acima de uma certa etapa”.

As relações de amor de Baptista –tanto com Rita Lee, cujo rompimento derivou no fim dos Mutantes, como com a atual mulher, Lúcia Barbosa– compõem o cerne do documentário, ao lado da trajetória da banda, recuperada em arquivos de foto e vídeo.

Sobre Rita Lee, que ele começou a namorar na adolescência, quando ela lhe “lembrava a Michelle, do The Mamas & The Papas”, Arnaldo diz: “Eu tinha um gosto que talvez não conseguisse expressar por ela. Foi a minha primeira mulher. [O universo feminino] era algo misterioso para mim”.

A respeito de Lúcia, fã que cuidou dele nos três meses de internação hospitalar, após sua tentativa de suicídio, em 1982, e a quem ele chama de “minha menina”, Baptista afirma: “A força de Lucinha ia entrando em mim e eu passei a ver a enorme diferença que existe entre o homem e a mulher”.

O diretor diz que tentou ouvir Rita Lee, que se recusou a falar, “mas foi solícita em liberar as imagens de arquivo”.


“Let the sunshine in”

O site da Cásper fez um especial sobre os 40 anos do musical Hair, símbolo hippie. Tá bem bacana. Há uma entrevista com Renata Pallottini, responsável pela versão brasileira do texto, resenhas e até traduções de algumas músicas.

O que conta Renata, sobre a montagem da peça que estreou no Brasil em 1969:
“Trabalhamos na preparação durante o ano inteiro. Os ensaios iniciais aconteceram no prédio da Gazeta, que não estava totalmente utilizado e tinha muito espaço vazio. Ficávamos em uma sala do segundo andar, que era muito fria e piorava durante o inverno, quando aconteceu a maior parte dos ensaios. Mesmo assim, a maior dificuldade – além do fato de ser uma peça de protesto, que pregava a indisciplina, a rebelião, o pacifismo – era a famosa cena do nu, em que no final do segundo ato vinte atores traziam uma bandeira branca ao centro do palco e, quando saiam debaixo dela, cantando Deixe o Sol Entrar, estavam completamente nus: Sônia Braga, Altair Lima, Armando Bogus, Rosa Maria, Ariclê Perez, entre vários outros.

Primeiro a censura examinou o texto em Brasília e, como toda a ação se passava nos Estados Unidos, não implicou com a peça. Depois do texto liberado, três censores acompanharam o ensaio geral e também a estréia, porque eles sabiam muito bem que podíamos fazer um texto bonzinho virar, na hora do espetáculo, uma autêntica revolução.

E de fato quando eles viram a cena do nu total disseram que não iria passar. O Altair Lima conversou com eles e fez um acordo: na hora do nu total a luz estaria bem na penumbra, quase não daria para ver os atores, só os vultos, as silhuetas. A cena era mais chocante por causa dos rapazes, porque nesse caso a novidade era maior – diferentemente do que acontecia com as mulheres, que desde os tempos do teatro de revista já ficavam com pouca roupa. No caso dos homens era espantoso.

O truque foi que, no decurso das apresentações, cada dia o Altair subia um pouquinho a luz, mas quando sabia que tinha censor na platéia, deixava tudo escuro. Quando não havia censor, aumentava de novo até o ponto que chegou à luz total. Essa cena era o momento de maior entusiasmo, todos ficavam loucos, o público queria subir no palco”.

Mais sobre a peça:

Quando o título provoca, é porque vale a pena olhar: Hair – The American Tribal Love-Rock Musical, peça escrita por Gerome Ragni e James Rado, é provavelmente a única obra de dramaturgia que consegue unir momentos tão lisérgicos quanto os vivenciados pela tribo de hippies Claude, Berger, Woof, Jeannie, Hud, Sheila e seus outros amigos. Músicas que posteriormente tornaram-se clássicas, como Manchester England, Let the Sunshine In e Aquarius, seqüências alucinadas e provocativas de referências à cultura hippie dos anos 1960 – “Vietnam, Johnson, High Scool, Sex, Cigarettes, LSD, Subways, Napalm, Pop Art, Pop Off” – e momentos que unem uma diversão irrestrita com libelos pacifistas e propostas para um mundo flower power fazem com que Hair permaneça até hoje como um ponto de referência e protesto contra um mundo careta e padronizado.

A peça é estruturada em pequenos fragmentos, sem uma linearidade aparente, no melhor estilo da livre consciência e da anarquia dos costumes tradicionais – desprezando, assim, uma construção mais conservadora das frases, ao adotar uma postura despretensiosa tanto nas músicas quanto nos diálogos (um dos muitos exemplos é uma conversa entre Berger e Claude: B: “Do you think homosexuality is here do stay, love?” C: “Yes, dear, until something better comes along”).

Entretanto, nenhum dos fragmentos da peça fica sem sentido dentro do conjunto (e principalmente do ideal) imaginado pelos autores, assim como nenhuma das músicas existe pelo simples motivo de chocar – Sodomy, por exemplo, configura-se não apenas como uma provocação, e sim como uma subversão da linguagem; quando a música aparece, Woof estava jurando após ingerir uma hóstia imaginária – “I swear to tell you the truth, the whole truth, and nothing but the truth so help me God, in the name of the Father”. Se na linguagem dita “oficial” não se pode unir em um mesmo momento elementos tão diferentes como sexo e oração – já que são categorias separadas por tabus sociais e morais –, Hair mostra uma subversão lingüística ao criar esse discurso naturalmente paradoxal que permite essas brincadeiras. Todo o discurso de Hair é baseado nessa lógica do inconformismo e do lúdico, seguindo uma única regra: não ter regras nem pressupostos que possam prejudicar a livre expressão das idéias.

Nesse sentido de funcionar como discurso, Hair assim se anuncia desde o início: “The Kids are a tribe. At the same time, for the purpose of Hair, they know they are on a stage in a theater, performing for an audience, demonstrating their way of life, in order to persuade those who watch of their intentions”. Mais do que apenas uma seqüência de cenas que mostram como era vida de uma geração inspirada por uma visão mais inovadora do mundo, a intenção da peça é expandir esse ideal para outras pessoas, conquistar adeptos para uma visão libertária da sociedade – peace-full, love-full world.

As inúmeras referências à cultura pop e ao cenário cultural dos anos 1960 são tão presentes que os fãs do musical não se cansam de procurá-las e tentar adivinhar seus significados – “One for Billy Graham, one for Prince Philip, and one for Joe Louis. One for Cardinal Spellman, one for Rabbi Schultz…”/ “Batmans, Castros, Hollywood, Burton-Taylor”; quando a Tribo canta Happy birthday, Abie baby, referindo-se à Abraham Lincoln; e as citações a Timothy Leary (professor de psicologia que experimentava alucinógenos com seus alunos e mais tarde tornou-se o guru do LSD) e LBJ – mais conhecido como Lyndon Baines Johnson, presidente que havia levado os EUA a um envolvimento mais pesado na Guerra do Vietnã. Gerome Ragni e James Rado também citam o intelectual Marshall McLuhan e suas teorias sobre a aldeia global, considerando que o movimento hippie é a personificação desse ideal universalizante, no qual todos estão unidos em busca de um único propósito: a procura por uma nova visão de mundo, que seja capaz de encontrar alternativas para uma sociedade controlada e padronizada. A famosa cena de nu da peça, por exemplo, na qual o elenco se apresentava inteiramente sem roupa, não tinha apenas a intenção de chocar – tinha também o propósito de simbolizar um novo início. Despido como uma criança, na metáfora de um recomeço, o ser humano poderia se desfazer de todas as tradições, na tentativa de recriar o mundo.

O uso de drogas é outro tema muito presente na peça, encarado como algo natural, que visa conduzir a um nível espiritual superior. No início do texto – em consonância com a visão da época, que acreditava que o experimentalismo com alucinógenos era capaz de criar um estado de transcendência – os autores dizem que o uso de drogas mostrado na peça e presente na cultura hippie tem paralelos nas culturas antigas, constituindo um meio para atingir um estado mais elevado de compreensão do mundo. “… flowers, candles, saris, sandals, psychedelic design, all combine to illustrate the emergence of a new-acient culture among the youth”. Ou seja, esse movimento surgiria de uma união da cultura ancestral indígena com elementos espirituais, religiosos, culturais – o novo e o velho criando um outro mundo. Que começou, quem sabe, “when the moon is in the seventh house/and Jupiter aligns with Mars/ Then peace will guide the planets/And love will steer the stars/ This is the dawning of the age of Aquarius”.

Para simbolizar o establishment – a ordem estabelecida com todos seus alicerces e implicações políticas e culturais – que domina a sociedade e todos os parâmetros comportamentais, a peça tem dois personagens alegóricos: Mom and Dad, que fazem o papel não só dos pais, como de diversas outras figuras paradigmáticas do conservadorismo e do poder estabelecido. Assim, Mom and Dad podem se converter em oficiais de polícia ou em diretores de estabelecimentos escolares. “Dad: Governor Reagan says turn the schools into concentration camps”. [Reagan era então governador da Califórnia] Berger: “Brainwash the masses!”. A relação de Mom and Dad com os hippies é o principal mecanismo pelo qual há o choque direto entre gerações que possuem visões tão diferentes do mundo e das tradições e códigos sociais. Muitas vezes essas relações se dão por incompreensão, mas a maioria delas traz consigo métodos mais pesados, que mostram com clareza o hiato entre o universo da Tribo de Claude e Berger e a sociedade estabelecida – esta última repetindo frases e clichês típicos dos padrões que foram a eles impostos. Um diálogo que exemplifica essa situação acontece entre Claude e Mom: ao perceber que seu discurso moralista é incapaz de convencer Claude a adotar seus padrões, Mom apela para a chantagem emocional: “Your father and I love you”. O que, para Claude, traduz-se em algo como: “faça o que queremos, porque nós te amamos. Isso deveria ser suficiente para garantir sua obediência”. Essa distância entre os mais velhos e os mais jovens nunca chega a um equilíbrio – como lutar com o poder do flower power se seus pais dizem que o que lhes dará orgulho é seu alistamento no exército para lutar no Vietnã? “Mom: The Army’ll make a man of you…” Aliás, a conversa entre Mom e Claude dá o tom para a ótima música I Got Life, introduzida pelo que segue: “Claude: This is 1968, dearie, not 1948”. Mom: “1968! What have you got, 1968, may I ask? What have you got, that makes you so damn superior and gives me such a headache?”

Outros elementos básicos da cultura hippie – como a aversão à sociedade capitalista e seus ideais de consumo – são expressos em vários momentos da peça, como quando Berger pede dinheiro a uma mulher que passava na rua: “Hey lady, can you spare a handout, something for a poor Young psychodelic teddy bear like me?”. A frase final da sentença de Berger, além de cômica, é uma óbvia alusão à visão do dinheiro como um meio para a sobrevivência, e não como algo a ser acumulado: “To keep my chromosomes dancing”. Além disso, o protesto contra a Guerra do Vietnã é muito forte na peça, e seu caráter pacifista está presente em quase todas as músicas e diálogos – que felicidade podemos ter, qual alegria pode existir em um mundo imerso em guerras e conflitos? “Riped open by metal explosion/Caught in barbed wire/Fireball/Bullet Shock”.

Tendo estreado na Brodway em 1968, a peça rapidamente ganhou versões em outras cidades norte-americanas e mesmo em outros países, como Alemanha, Japão e Austrália. No Brasil, a peça estreou em outubro de 1969, com direção de Ademar Guerra e versão de Renata Palottini, e ganhou novas conotações e significados em um país no qual, graças ao então recém-editado AI-5, vivia uma guerra interna.

Entre os que viram alguma versão da montagem teatral original costuma haver um certo desconforto em relação à versão cinematográfica, o que é compreensível, posto que alterações muito significativas foram feitas. O filme do diretor Milos Forman, feito em 1979, é muito diferente do texto original, e essa característica precisa ser entendida considerando que a estrutura da peça, por ser fragmentada, ao invés de apresentar uma narrativa linear, contribui para que cada adaptação modifique e reorganize a história da maneira que considerar mais adequada. Para dar uma ordem cronológica aos inúmeros fragmentos, músicas e diálogos, o roteirista Michael Weller resolveu focar a história em um romance entre Claude e Sheila – o que não faz sentido dentro da lógica de amor livre pregada pelos hippies da Tribo, mas funciona como recurso cinematográfico. No filme, Claude é o personagem principal, agora apresentado como um caipira de Oklahoma que vai a Nova York passar dois dias antes de se apresentar ao Exército. Na peça, Claude e Berger – representados na Broadway por Rado e Ragni, respectivamente – lideram a tribo e tem o mesmo peso dramático. Claude não é, como no filme, um interiorano que só chega a se integrar ao grupo depois de muitas resistências.

O final também é totalmente diferente nas duas versões – no último ato da peça, Claude corta seu cabelo, entrega-o a Berger e, após ser chamado insistentemente por Dad para se juntar ao Exército, entra na fila e segue em frente: parte para o Vietnã. Já no filme, Berger, ao tentar ajudar Claude a sair do quartel para ver os amigos, acaba embarcando em seu lugar; um dos momentos finais, embalado por Let the Sunshine In, mostra a Tribo reunida diante da lápide de Berger.

Falar sobre Hair é, inevitavelmente, se envolver em uma atmosfera de liberdade – não só pelo caráter contestador e revolucionário da peça, como pela deliciosa ousadia de criar uma obra que consegue, apesar de seu caráter utópico, fazer com que cada leitor e cada espectador realmente acredite em um mundo no qual as pessoas podem gritar “Walla Walla Goona Goona”, proclamar a alegria de poder dizer a todos “I got life mother/I got life sister/ I got freedom brother”, balançar os cabelos cantando “Give me a head with hair/Long beautiful hair/Shining gleamin streaming”.

Vai lá.


Tati.


Fim do mundo e o despertar da contracultura

Pronto. O LHC começou a funcionar, e temos a possibilidade de um fim de mundo. Ok, a chance é remota. A máquina pode recriar buracos negros, mas eles serão super pequenos. Tudo bem. Mesmo assim, para ignorantes em física quântica como eu, só o fato dessa possibilidade não ser descartada já é assustador. O que isso tem a ver com psicodelia? Tudo. A raiz da contracultura está na possibilidade de fim de mundo, como escreveu o filósofo Luis Carlos Maciel em “De volta para o futuro”.
Trecho do post que fiz em maio do ano passado:

‘Para contar a história da contracultura mundial – e depois adaptá-la à realidade nacional, e à sua própria interpretação – Maciel começa falando da “Bomb Culture”. A sociedade pós segunda guerra cresceu sob temor constante da destruição absoluta – e foram os protestos contra a bomba atômica que ocuparam os jovens intelectuais e artistas antes dos Beatles, a tal beat generation. O símbolo da paz, disseminado pelos hippies mundo afora, é dessa época. O termo “Bomb Culture” é um título de um livro do poeta, músico e pintor Jeff Nutall, que explica o underground partindo de quatro trilhas: música pop, protesto, arte e comportamento existencial marginal do século XX. “Foi a fusão dessas correntes que resultou, com as drogas psicodélicas, no underground, cuja eclosão é assinalada em 1967, pelo surgimento dos hippies e do flower power”, explica Maciel.’

Será que essa possibilidade assustadora pode fazer florescer algo parecido? Sei lá. Mas é interessante pensar nisso. Talvez – se o LHC não comer o mundo, hehe – possamos ver isso daqui a uma ou duas gerações.

Para saber mais sobre a máquina, autojabá.

Tati


Os ícones da moda nos anos 70

Clipping preguiçoso.

Conheça os ícones da moda dos anos 70
Elis Martini
Especial para o Terra

Quando se fala em anos 70, a maioria das pessoas pensa em batas, cabelos longos e calças bocas-de-sino. Porém, essa década foi muito mais rica. Seu início herdou a estética hippie dos anos 60 e presenciou o surgimento do glam rock e a ascensão do black power. Seu final viu o boom das discotecas e o estouro do punk e do new wave, que formariam as bases da década de oitenta. Confira agora quem ditou moda e comportamento nessa movimentada década.

1970-1976
O início da década de setenta foi uma continuação do pensamento e da estética hippie surgidos nos anos anteriores. As batas e os vestidos indianos, as calças boca-de-sino e todos os elementos que compunham o visual hippie se popularizaram cada vez mais, virando itens fashion. Apesar de grandes nomes desse movimento, como Janis Joplin e Jimi Hendrix, terem morrido justamente no ano de 1970, e Jim Morrison, em 1971, essas personalidades continuaram a inspirar jovens do mundo inteiro na maneira de se vestir e de se comportar. Outra grande influência foi banda de rock Led Zeppelin, que reinou soberana durante toda a década, misturando a estética hippie com o rock n’roll.

No Brasil, um dos grandes ícones da juventude foi Caetano Veloso, que, junto com seus companheiros do movimento tropicalista, mudou a maneira de se vestir e pensar de milhares de jovens brasileiros da época, mesmo sob o controle de uma forte ditadura militar.

O início dos anos 70 presenciou a explosão do movimento black power, que incitava os negros a aceitarem sua pele e seus cabelos do jeito que são naturalmente – daí surgiu o famoso penteado que leva o nome do movimento. Um dos ícones dessa mudança foi a ativista americana Angela Davis, que lutou pelo direito dos negros nos Estados Unidos, apesar de fortes perseguições. No Brasil, o penteado chegou através de Toni Tornado e de Tim Maia.

Foi uma febre tão grande que até quem não tinha o cabelo propício para fazer um ‘black power’ dava um jeito de encrespar. Assim, em meados da década de setenta, até Jô Soares, Marcos Paulo e os cantores Roberto e Erasmo Carlos desfilavam seus penteados black power.

Os anos 70 também presenciaram o surgimento do movimento glam rock. Em 1972, David Bowie lança o álbum Ziggy Stardust and The Spiders From Mars, que se tornou um marco do estilo. Nos seus shows, o cantor usava roupas brilhosas, cabelo vermelho e muita maquiagem, dando início a um movimento andrógeno que se espalharia pela Europa e pelos Estados Unidos. Outros grandes nomes do glam rock são Marc Bolan, líder da banda T-Rex, e o grupo New York Dolls.

(…)

Fonte: Terra

Tati